Seria o Anarquismo
uma ideia cujo tempo chegou?
Diz a lenda que um antropologista de um país do dito mundo desenvolvido
chegou num povoado na África do Sul, reuniu as crianças e disse a elas: embaixo
daquela árvore coloquei um monte de frutas e guloseimas, vão correndo até lá, e
quem chegar primeiro pode ficar com todas elas.
As crianças se entreolharam por alguns segundos, deram-se as
mãos, e saíram correndo juntas, de mãos dadas. Chegando lá juntas, esbaldaram-se
com as frutas e as guloseimas, juntas.
Perguntadas sobre o porquê de terem agido dessa forma, elas
teriam dito mais ou menos assim: “Ubuntu(*), como poderia um de nós estar
feliz, enquanto todos os outros estão tristes?”
Parece que ao contrário da ideia que nos foi vendida por
décadas pelos neodarwinianos, a sobrevivência do mais apto (ou do mais forte),
e a competição decorrente entre os indivíduos da mesma espécie, não é o
princípio que prevalece na natureza.
Pelo contrário, estudando a fundo o comportamento natural,
percebe-se que prevalece a ‘ajuda mútua’. A ajuda mútua é a única forma de
sobrevivência eficaz, e mesmo evolução, das espécies.
O sistema hierárquico em que vivemos decorre do princípio
equivocado da sobrevivência do mais apto, onde alguns se acham mais aptos que
outros, e por isso se advogam o direito de governar os demais.
As organizações das sociedades animais podem ser altamente complexas,
mas são anárquicas, não há um sistema hierárquico profundo. Alguns grupos
de animais explicitamente classificam-se
em certa ordem, como uma hierarquia
entre galinhas ou a ordem para comer em um grupo
de leões, mas estas são ordens de
classificação que não criam inteiras
classes privilegiadas, ou fileiras,
ou uma cadeia de comando. Consequentemente,
as sociedades de animais são igualitárias.
Mesmo a dita abelha rainha
ou a rainha cupim não detém uma posição de comando: ela é
simplesmente o órgão reprodutor da
colônia e não dá ordens,
nem segue ninguém.
As nossas organizações hierárquicas estão em colapso. O dólar
é um papel sem valor emitido por um banco privado, sem lastro em coisa alguma.
A dívida pública americana é impagável, e não para de crescer. O colapso é uma
questão de tempo. Na Europa não é diferente. O lucro dos megabancos é privativo
de seus proprietários, mas se vem dificuldades, o prejuízo é socializado, à
custa de cortes de salários de funcionários públicos, demissões, e diminuições
de investimentos públicos e benefícios sociais, reduzindo a circulação de
dinheiro na economia, o que acarreta em demissões também no setor privado. E
quem é responsável por isso? Os infames políticos (meras marionetes na mão dos
que realmente mandam neles, não menos infames), que o povo ilusoriamente ‘escolhe’,
e que se acham numa posição hierárquica tal que se outorgam o direito de saber
o que é melhor para a nação. E aqui em Pindorama, esses mesmo políticos (e os
que mandam neles) se refestelam nas tetas na pátria há séculos, só eventualmente
sendo superficialmente desafiados por iniciativas como o processo do mensalão
no STF. O sistema todo está falido. O experimento industrial está chegando ao
fim.
Se o anarquismo é o padrão natural para
a vida na terra, por que as sociedades
humanas mais contemporâneas
são organizadas de outra forma? A
quem isso interessa?
Se as pessoas são mais ou menos dispostas a submeter-se à autoridade hierárquica
quando o sistema distribui recursos mais
ou menos equitativamente, o que acontece quando a hierarquia deixa de jogar alguns restos e ossos para as massas?
Seria o Anarquismo uma ideia cujo tempo chegou? Não sei, mas
vou estudar o assunto. Como disse o grande Vitor Hugo, nada é mais forte que
uma ideia cujo tempo chegou.
Claro que essa nova ordem não agradaria a alguém
especificamente: aqueles 1% da população, aqueles no topo da pirâmide... aqueles
que se aproveitam das divisões criadas entre os demais 99% para poderem governar...
divisões estas criadas por eles mesmos... pura inspiração de Machiavelli...
Mas que tal mudar o paradigma? Que tal parar de abrir mão de
sua soberania pessoal, através de um voto, dando o seu
livre-arbítrio para um terceiro tomar as decisões por você? Que tal tomar as
rédeas de sua própria vida e desenvolvimento?
Fonte de inspiração: http://undisciplinedphd.com/2012/10/11/is-anarchism-a-political-philosophy-whose-time-has-come/