quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


Toda vez que assisto na TV, ou vejo com meus próprios olhos as cenas de miséria humana que muitos de nossos irmãos ainda sofrem, vários pensamentos vêm a minha mente.



Um deles é a grande hipocrisia e ilusão de liberdade, igualdade e direitos humanos em que vivemos. Na verdade, nossa sociedade vive ainda num ambiente de Apartheid social, de puro preconceito.



Vale a pena resgatar que as teorias de eugenia praticamente nasceram junto com a "civilização" humana, mas em nossa história recente, tiveram grande força a partir do início dos anos 1900. As idéias de 'purificação da raça' floresceram com força em países do ‘eixo do bem’, como os EUA e Inglaterra, não só na Alemanha !



E isso antes da I Grande Guerra !



Vencidos os nazistas, ficamos com a ilusão de que as idéias racistas foram sepultadas, ao menos em cova rasa, e estão sujeitas apenas a afloramentos localizados e esporádicos em grupo neo-nazistas e coisas do gênero. No Brasil inclusive, onde apenas 4% dos brasileiros se considera racista, mas 87% consideram que existe racismo no país. Por que esta discrepância de números ? O preconceito está restrito a eventos esporádicos, e a certos grupos radicais ?



Ledo engano...



Vivemos, assim como em outras partes do mundo, um Apartheid social. Há saúde do rico, com as últimas inovações em tecnologias e medicamentos, e a saúde do pobre, sujeito a cotas de exames, uma lista limitada de medicamentos e tecnologias em saúde, e filas intermináveis, onde muitas vezes o doente acaba morrendo antes de ser atendido.



Há a educação do rico, que pode pagar as melhores escolas e professores, e a educação do pobre, com escolas públicas que foram historicamente sucateadas, com professores desmotivados e mal pagos.



Há o trabalho para o rico, que com boa saúde e boa formação, facilmente alcança as posições mais dignas e melhor remuneradas. E há o emprego para o pobre, com um salário que mal dá para a alimentação e o aluguel de uma morada muito simples, quando dá. Isso quando o pobre consegue emprego, pois tem dificuldade em encontrar uma creche para deixar seus filhos enquanto trabalha. Alguns poucos países, como a França, já avançaram muito nesta questão, com auxílios financeiros importantes para pessoas de baixa renda. Mas não são auxílios como o bolsa-família, que estimula a ociosidade, mas sim existe a contrapartida da obrigatoriedade de buscar trabalho e emprego.



Nós mesmos temos preconceitos com relação aos menos desfavorecidos. Quantos de nós já olhamos desconfiados para uma pessoa que chega ao nosso lado vestida de forma mais humilde, enquanto passeamos distraidamente nos santuários de consumo destinados à burguesia ?



Sim, o preconceito e a discriminação em relação aos menos favorecidos continua. Precisamos lembrar que somos essencialmente todos iguais ! Na verdade somos todos UM só ! Precisamos de um movimento da sociedade em direção à igualdade, dando mais condições aos que tem menos, para que mais rapidamente todos possamos gozar do mesmo nível de bem-estar social.



Para isso precisamos também de políticas públicas que favoreçam o equilíbrio das diversas castas que compõem a sociedade. Casta sim, pois um pequenino filho de mãe solteira que nasce em uma favela, que convive com o preconceito pela cor da sua pele e pelo seu endereço, que não consegue estudar porque simplesmente não há escola por perto, que tem que pedir esmola na rua porque simplesmente não há como conseguir comida, que não consegue trabalhar por todas estas razões e outras mais, não tem alternativa senão uma sub-vida, ou a vida do crime. É uma casta social onde seus membros estão fadados a nascer e morrer. Com raras exceções.



Estamos novamente nos aproximando de eleições. Vamos continuar votando nos representantes da oligarquia, que tem interesse somente na concentração da renda nas mãos dos donos dos meios de produção, e na escravização da mão de obra pelo consumo desenfreado, ou vamos escolher mais conscientemente nossos representantes ?



Mais importante do que isso, no nível pessoal, vamos continuar vendo as pessoas menos favorecidas como uma casta à parte, que não faz parte do nosso mundo ? Ou vamos tomar atitudes que favoreçam a igualdade ?



Somente nestes últimos anos o Brasil tem sentido os efeitos do capitalismo selvagem, com fusões de empresas, aquisições, massificação da mão-de-obra, baixos salários, desemprego, e falência das pequenas empresas familiares em face à concorrência dos grandes conglomerados. Em todas as áreas estamos nos tornando escravos do grande capital. No outro extremo, os sistemas socialistas demonstraram mundo afora sua incompetência em melhorar a situação. Apenas troca-se a ditadura do capital pela ditadura do partido, quando não a ditadura de um personagem só.



Precisamos de um novo sistema, igualitário, justo, democrático, participativo. Mas para isso precisamos avançar individualmente também em nossa compreensão do mundo em que vivemos.



Vejo o futuro da humanidade com otimismo. Estamos avançando a passos lentos sim, mas em várias áreas é perceptível esse avanço. Você não acha ? Considerando os milhares de anos de história da humanidade, há apenas cerca de 50 anos as mulheres eram proibidas de votar. Queimaram sutiãs, fizeram protestos, e hoje são executivas e líderes em pé de igualdade com os homens. Claro, nem tudo é perfeito, mas já foi um grande avanço. Exemplos assim temos vários.



A humanidade está avançando. Mesmo que lentamente, estamos adquirindo uma nova consciência de nosso mundo.



E você ? Ainda pensa que somos diferentes, homens e mulheres, brancos e coloridos, loiros e morenos, ricos e pobres ?



Pobres dos que pensam que estão acima de outros, em razão dos dígitos em suas contas bancárias, de sua linhagem nobre (?), ou de sua posição na sociedade...afinal, somos todos UM só !



Pense nisso !